Acordo, dou uma espreguiçada sobre o lençol amassado e envelhecido, divago fitando o teto, dou uma espiada nas horas na tela do celular. Outra espreguiçada, um aconchego junto ao travesseiro sob a cabeça. Outra olhada nas horas, sento-me no limiar do colchão e enfio os pés na sandália gelada e calma. Bocejo, estico os braços sobre a cabeça, deslizo as mãos sobre as madeixas. Bocejo lentamente. Levanto arrepiado, pego a toalha sonolenta, enfio-me no chuveiro, ainda, embriagado de sono e de sonhos.
Depois de algum tempo, abro a portinhola do armário do banheiro: escova, pasta e ligo a torneira. Abro a porta do box e ligo o chuveiro a delirar. Sussurro aos ouvidos: “quarta-feira, meio da semana!”
Abro o guarda-roupas: camisa, calça, meia e cueca. Sobre a cômoda: perfume, desodorante, cinturão e pente. Sob a cama: os sapatos cansados de guerra.
Depois de vestido, penteado e perfumado: controle do portão, molho de chave do carro, caneta ao bolso e pasta 007.
Geladeira (um pouco de água com o sabor da paz de um monge), leite, café, açúcar, pães, bolo, xícara, colher, microondas.
“- Quem vai comigo!”
Na saída, um beijo carinhoso na amada, um afago no Zen (meu amigo cão).
Abro o carro (uma ajustada na cabeleira pelo retrovisor), aciono o portão, dois toques na buzina (avisando que estou partindo), fecho o portão, cumprimento o vizinho e fui.
Semáforo I, semáforo II, semáforo III, semáforo IV, semáforo V (conheço-os de có)… Frei Serafim.
Talvez estejamos cumprindo o mito de Sísifo.
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