Estava assistindo o jornal quando surgiu uma reportagem a respeito dos viadutos de São Paulo, em que a maioria está em péssimas condições de conservação. O que mais me causou espécie, foi que, quando o repórter fazia o comentário da reportagem, sobre um dos viadutos, percebi uma pessoa deitada no chão, do outro lado, sobre um colchão velho e uns papelões.
Por incrível que pareça, fez-se toda matéria, com a fala de especialistas e do atual prefeito Covas, no entanto, ninguém tocou na situação miserável em que se encontrava aquele ser humano. Fiquei a me perguntar: “Meu Deus, o ser humano perdeu o valor!”
A vida humana passou a ser secundária. Cura-se as “feridas” do concreto, e deixa-se a carne em estado de angústia e solidão. Onde fomos parar. Ainda, nos rotulamos civilizados. Fizeram toda reportagem com a frieza de um poste. Uma pessoa totalmente invisível aos olhos do poder público. Um bicho qualquer. Do qual não é aconselhável se aproximar, pois ele pode até moder.
Falaram até na quantia em cifras que o município irá se dispor para botar em forma as alças para servir melhor aos automóveis. Eles são fonte de renda, pois recolhem IPVA. O mendigo, pelo contrário, só suja a cidade. Ainda, na sua maioria, espanta os turistas. Aqui é o fim da picada. A vida está banalizada. Morre-se, nas grandes cidades, de frio, de desprezo, de fome e de bala.
Meu dia começou com essa imagem, e eu comecei mal. Os supermercados estão abarrotados de mercadorias e os bancos dando lucros estratosféricos. E as pessoas desempregadas, desabrigadas e desesperadas. Que mundo maravilhoso! Alguém pode me dizer onde está a lógica de um agronegócio batendo o recorde em plantação e exportação e a fome assolando a pobreza. As lojas estão lotadas de confecção e o povo nu. Que mundo belo!
Aumente o muro, ponha cerca elétrica, compre um revólver ou dois, crie uns cachorros, mas tenha cuidado com o trânsito e com a bala “perdida” e encontrada na vossa cabeça: compre um carro blindado.