Que bom poder está agora com os pés descalços sentado à beira desta cosmossexual lagoa. Sinto às costas um vento frio, encantador e erótico. Aos ouvidos um silêncio enfadonho e lerdo.
As árvores da pequena à maior parecem todas estar reverenciando o espelho manso desta poça d’água. Quanto mais ao fundo, menos morna.
Embaixo não há lama somente pedregulho pontiagudo e areia branca e branda. À outra margem uma canoa com o casco de cuia para secá-la durante a navegação. Fica sempre estacionada a uma palmeira esbelta e elegante que vara o sol e filtra a noite.
Nadei uma, duas, três vezes. Os gansos desfilam com a serenidade de uma autoridade esquisita e eclética. Até parecem bailar.
Os patinhos que nunca sofreram com um só dia de aula de natação nadam de um lado para o outo de forma serelepe como se fossem palhaços aquáticos.
Reflito: conduzo tantos pecados que pareço uma barra de chumbo tentando flutuar à flor-d’água.
Essa água gelada que elevo ao rosto com as mãos em suplica rejuvenesce e purifica-me.
Este espaço bucólico em cores vis aproxima-me dos bichos. Tornando-nos refém do alimento e da cópula.
Esqueço do espiritual por alguns instantes.
Agora: sacro, santo e solitário.
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