À margem do rio, há flores que parecem ser talhadas em pedra, em mármore, em gesso, em veludo, em algodão,… Umas exótica, calada, erótica, menina, esquizofrênica, introspectivas, abortiva, temerária, outras rústicas…
O rio nasce na montanha e sai arrastando a barriga por entre a mata ao som do canto dos pássaros.
As crianças também nascem numa quebrada. No tobogã do ventre da mãe vai enfrentando abismo, curva sinistra, alegria, acidente, alergia, angústia, aventura… Verdadeiramente, uma belíssima odisseia. Há momentos em que a caminhada é sobre uma areia fina e branca. Abundante em paz. Noutros sai roçando as pedras, as rochas, os espinhos, o arame fardo, o resto de concreto, beirando ao asfalto. Há dias que vai regando belos e frondosos roseirais. Há dias de encarar e enfrentar o sol. Depois, vem longas cavalgadas em maré baixa. Instantes de mergulhar por debaixo da ponte e vislumbrar o infinito do horizonte.
Há lugares, dentro dessa barriga encantada, que é noite de São João. Céu apinhado de estrelas e lua cheia. Enfim, o embrião, como todo bom viajante, segue seu itinerário a busca de melhores paragens.
Segue o curso da vida numa ida sem saída para não se furtar à lida. Caso não seja ceifado precocemente, chegará ao oceano da velhice. Cheio de chega, alegrias, culpa, encontrado, remorso, compreensão, traumas, amor… Sentindo que por tudo que fez, ainda, deixou de realizar muitos sonhos e desejos, atropelados ao longo da jornada.
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