100% PIAUÍ

“Cronicando o Piauí” com Antônio Neto Sampaio – Fim de semana

Da rede, companheira inseparável, ouço o canto dos pássaros invadir minha janela. Também, entrar, timidamente, um pouco de solidão. Ouço, ainda, os cachorros, inquilinos cativos da praça. Assim, começam transitar as primeiras imagens das cenas do sábado que está só começando. Ouço o ferro dos pneus da carroça ranger. O estalido do chicote alcançar o lombo do burro. São os ossos do ofício para sobrevivência do condutor e da sua prole.

Há momentos que só o silêncio fala. Tudo para. Imagem congelada de seres animados. Uma buzina distante anuncia o tráfego. Pela janela vejo um céu escuro e pesado. Pronto para desabar. Lanço a mão na parede para embalar meu “casulo”. O silêncio vai afinando e invadindo minhas “oiças”. Olho para o telhado e vou às reminiscências. Uma retrospectiva num passado bem próximo. Sinto falta da falta que os que se foram me faz. Debulhando aqueles dias, com uma arquitetura franciscana e a estrutura de um eremita, tento esmiuçar minha saga como peregrino temporário nesta terra.

O anonimato vai me conquistando como a águia que esquadrinha a presa. Sinto como se estivesse numa camisa-de-força confortável. Penso em sair, mas, o ficar é muito mais interessante. Lá fora, os temas estão tão surrados. Tão esmiuçados. Fico fatigado só em pensa na velha peleja e na sua constância. Deleto a ideia, e recolho-me. Fico cá, com meus botões. Vou à cozinha. Bebo da água do filtro e aproveito para botar os unguentos em dia. Do quintal, dou uma olhada no horizonte longe. Uma espreguiçada. Um bocejo. Olho para a imensidão do azul celeste e vejo o Criador.

Através da obra sinto seu Autor. Uma abelha fica me rondando. Fico quieto e ela pousa no meu ombro. Seu caminhar, com seus pés sublimes, fazem cócegas e a sensibilidade me faz sorrir.
Agora sim, começou, efetivamente, meu sábado.

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