Este deslizar pelas ruas da cidade em constante atrito e de peito contrito numa árdua natureza em concreto e num corpo abstrato. Nestas idas e vindas, vou ruminando a vida em rosto forte, em sonho martirizado. Caminho roçando as costelas na esquina fria e em lote de gente.
Gosto de conversar com a cidade quando a encontro solteira, viúva, virgem ou brega. Quando estou em movimento variado e avariado, sinto o tempo corroer minhas entranhas com mais ferocidade e menos velocidade. Assim, usufruo do tempo que me resta com mais acidez, sensatez e escassez. Esbanjo as horas sem pena nem dó, como a meretriz que sabendo que sua vida vive por um triz jamais esquece de ser feliz. Ela brinda e brinca com a vida e com a lida como se a mesma fosse a mesma face do tesão de cada dia, que faz parte do seu banquete profano. Faz seus dias, dias seus.
Peca por todos os beijos dado, doado, comprado, vendido, amado, mastigado, estragado, chagado, mazelado, melado, lambuzado. Peca por todo excesso, por toda falta e por toda falha.
Certo é viver sem medida. De forma assimétrica, pois é a melhor de todas as pedidas.