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Cronicando o Piauí: Composição abençoada

Há dia em que componho minhas crônicas olhando pro Sol. Noutro, pras estrelas. Noutro, pra mim. Sento-me, no meu quintal ou nas minhas noites de insônia, e vou tecendo. Vou despedindo-me em letras, indagações, frases, exclamações, parágrafos, interjeições…

“Não quero penitência e sim misericórdia”(Jesus).

Hoje, já não tenho compromisso com a tristeza. Nem com a angústia. Como sei que o sofrimento é um tempero infalível da saga telúrica, tento entender e digeri-lo com parcimônia. Assim, é mais fácil contornar, suplantar e superá-lo. Essa convivência, de certa forma, pacífica, é um exercício diário. Cotidiano disciplinado. É como se equilibrar na corda bamba. Não adianta o autoostracismo. Ainda, que sejas um eremita, não irás se furtar às mazelas.

“A única constância na vida é a inconstância” (G. de M. Guerra).

A vida oscila entre: aperta e foga. Há momento de tensão. Noutro, relaxa. Sejamos ousados. Destemido. Audaciosos. Como há acontecimento que nos foge à vontade, temos que encontrar uma maneira de vencê-lo. Não temos como regredir para modificar o passado. Não dar pra entrar no retrovisor da vida e refazer tudo novamente. Transformar tudo em arte. Tanta cobrança, não vai nos redimir. Temos que continuar. É melhor não ficar recobrando o tempo passado. Já que não dar pra parar, o jeito é velejar. Aproveitar os momentos favoráveis. No maremoto, silenciar. Sair à francesa. Viver de forma leve e breve. Tudo é efêmero. Tudo é fugaz.

O ipê tem uma fase exuberante… noutra, seca!

Juntamos tantas parafernálias, que nunca vamos utilizar. Com a morte, tudo perde o valor. Nada faz sentido. Agora, tudo passar a ser tolice. Passamos a sorrir de nós mesmo. O corpo começa a dar sinais de que está abrindo falência. É uma pena, mas não encontraremos nas bancas do camelô: rins, fígado, pâncreas, bílis, retina, olhos, coração, tesão, testículos, pênis… para repor. O carro do ano perde lugar pro sítio no campo. A casa com piscina abre espaço pros dias de chuva na zona rural. As luminárias elegantes dão vez à Lua. Os bailes perdem pras noites de sossego. Tudo vai perdendo o brilho. O sabor. Agora, estamos limitados. No andar, no enxergar, no pulsar, no alimentar… tanto dinheiro no saldo da conta-corrente… tantas peças de roupa no guarda-roupa… perfume francês caríssimo… sapato cromo-alemão luxuoso… joias, brilhantes, talheres e pratarias… tudo ilusão e vaidade.

“Vaidade das vaidades. (Eclo).

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