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Cronicando o Piauí: Correndo por fora

Sou um vexame. Logo, não me importo. Corro por fora, longe do páreo. Prefiro está fora da caixa. Não estou à venda ensacado, enlatado e encaixado nas gôndolas do supermercado. Não me dou as roupas de etiqueta cara. Não leio os periódicos de alta frequência. Não sei os assuntos da última pauta de paz e de guerra de cunho internacional. O meu caminhar é vil e fugaz.

Não sei se sou parte do homem viril da filosofia grega ou se prefiro pensar em alemão. Pode ser que esteja atrelado à ética judaico-cristã. Ainda, estou procurando o meu quadrado. Blaise disse que vou ao entretenimento por não trazer a coragem de ir à verdade. Assim, como Diógenes, com a sua lanterna em punho dia e noite, procurava um só homem, procuro um mundo simples. Não entendo de vida. Talvez seja esta a minha primeira infusão pelo planeta telúrico. Não tenho muito tato sobre dotes sensíveis. Não vou ficar tentando o tempo todo me incluir nesta sociedade depressiva. Não procuro respostas, pois não sei nem como vim parar aqui. As perguntas são tantas que já não me dou ao luxo de tentar grifá-las. A máxima hodierna é: “Beije o rico e cuspa o pobre!”

Amar, para a funesta matriz da minha infértil realidade, é cuidar. Hoje, vai prevalecendo a rotatividade de sandálias femininas que cruzam a face dos lençóis e do leito nos motéis da cidade. A deixa é quantidade e menos carinho. Menos afeto, mais carne. Ejacular por metro inculto. Quanto mais pernas despirmos, mais super-homem nos tornamos. Quanto mais vulgar os lábios, mais inclemente a carne. Coração frio de carne viçosa. E a vida vai arrefecendo e o mundo se apequenando. As fugas se dão sob os muros das drogas, do etílico, idas e vindas ao shopping, um bom salário, um bom emprego… e nada satisfaz.

Falta alguma paz no fundo da alma. Vida oca, opaca e exausta. Uma perseguição a uma presa que não se sabe ao certo onde ela se encontra. Aí, todos saem atirando no escuro para todos os lados. Aleatoriamente, em alegorias. Seguimos sem prumo, sem rumo e com nódoas. Seguimos um sistema cego que nos conduz ao abismo da ansiedade, do medo, da depressão, da violência…
Trabalhar com afinco para se aposentar com salário miserável daqui a 35(trinta e cinco) anos. Aí, o sítio que você sonhou a vida inteira para plantar um pomar e criar galinha, não vai rolar. Agora, está velho, cego, decrépito, debilitado e doente. Banhar na chuva com os netos, nem pensar, a osteoporose lhe persegue. Quando for ao restaurante com a família, tenha cuidado com a diabetes.

Por tudo isso, e muito mais, não consigo fechar minha contabilidade. Estou sempre no vermelho. Juventude, viço e saúde para serem postos a favor da construção da “Torre de Babel”. Ao final, teremos, verdadeiramente, a construção de uma concreta confusão mazelada e senil. São, por volta de 25(vinte e cinco) anos, de estudos para lhe transformar numa ferramenta de mão-de-obra. A Ciência não está a serviço de uma humanidade humano, porém, de um sistema faminto e selvagem que vai lhe sugar em tudo que tem de melhor até abandoná-lo como se fosse um bagaço de laranja.

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