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Cronicando o Piauí: Isso é coisa de menino “réi”

Na adolescência tinha um amigo que se chamava Raimundo, e sua alcunha era Piqui. Ele com a família eram moradores de um terreno enorme, que ficava em frente à minha casa. Lá, tinha um pomar: caju, ata, banana, goiaba, tamarindo, manga, tangerina, abóbora, carambola… gostava de brincar com ele. Eram humildes. O seu Joaquim, pai dele, era carroceria. Era de onde vinha o sustento da prole. O Piqui fazia mandados para ganhar uma moedinha: ir à quitanda, à farmácia, ao mercado e etc.

Todos os dias, à tardinha, jogávamos bola no campim em frente a sua casa. Antes de começar a pelada ficávamos conversando debaixo de um pé-de-sapucaia. Eram tanto os assuntos. Só temas triviais. Numa dessas conversas, o Piqui disse está vendendo picolé. Fiquei com aquilo na cabeça. Quando terminou o futebol, chamei e disse: “Piqui, quero ir vender picolé!” Arregalou os olhos e disse-me: “Tu é louco, é!?” E não deu bola pro que falei. Insisti. Ele, para se livrar de mim, disse: “Tá bom!”

Passou um dia, dois, três. No quarto, voltei a tocar no assunto. “Amanhã, te levo!” Saí para morrer de satisfeito. Só que ele não apareceu. Me deu um balão. Passou, passou, passou. Toco novamente no assunto. “Rapaz, se o seu Sampaio souber vai sobrar pra mim!”
Não me contentando, fui esperá-lo passar. Ataiá-lo. Quando me viu, tomou um susto. “Vamos lá!” Não havia dito nada em casa. Saí escondido.

Na fachada estava escrito: “Picolé Amazonas”. Fui apresentado como primo, mas o senhor não engoliu. “Esse menino não tem jeito de vendedor de picolé, não!” Ele se responsabilizou pelos prejuízos. Se houvesse, pagaria. Me entregaram a caixa com os picolés. “Aí, vão 32(trinta e dois): dois são seus!”
Saímos juntos. Comecei a senti o peso da responsabilidade. “Vou te deixar no mercado, no meu ponto!” Fiquei dentro do mercado, bem numa porta. Comi rapidinho os meus. Depois, lasquei o pau a comer picolé. Quando penso que não, a Fátima, nossa vizinha, dar de cara comigo. “Tu tá vendendo picolé!?” Quis enrolar mas deu. “O padim não está sabendo dessa arrumação!” Me lasquei!

O Piqui chega. “E aí, vendeu tudo!” Não havia vendido nada. A Fátima passou aqui e me viu! Tentei me esconder mas não deu! Já havia chupado mais da metade. Abre a caixa e bota a mão na cabeça. “Eita porra!” Encheu os olhos de lágrimas. Pois tinha que pagar os picolés. Era o meu avalista. Pegou a caixa e botou no outro ombro. Saiu com as duas caixas. “Vai pra casa que vou resolve!”

Cheguei abrindo o portão devagarim e fui entrando sorrateiramente, quando ouço: “O Padim disse que quando você chegasse, antes de banhar e almoçar, ir falar com ele. Era a Cruzinha, sobrinha que tinha vindo de Castelo do Piauí para estudar. Fodeu! Nunca havia apanhado. Hoje, seria o dia. “Onde você andava?” Sabendo que ele não gostava de mentira, e imaginando que a Fátima havia batido com a língua nos dentes. Respondi: “Estava vendendo picolé com o Piqui na Piçarra!” Olhou para mim, e senti um pouco de misericórdia nos seus olhos dele. Sempre pedia para dizer a verdade. Fosse o que fosse. “Você tá precisando de alguma coisa?” Sacodi a cabeça negativamente. “Então, meu filho!?” Manda eu ir banhar e almoçar.
“Quando terminar volte aqui!”
Retorno. “Você vendeu os picolés?” Ele sorri. Não! Relato a saga tintim por tintim. “Chame o Raimundo pra pegar o dinheiro dos picolés!” Quando digo que comi mas da metade, pega minha cabeça, beija e sorri.

“Deus me livre!”
Ficou com medo do papai dizer alguma coisa com ele. Peguei o valor com ele e o papai pagou.
Toda garotada ia assisti o Tazan, Túnel do Tempo, Os Três Patetas, Batman e Robin, O Zorro… lá em casa, pois só havia televisão lá e na casa do Olímpio.

O Piqui passou foi tempo ressabia com papai.

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