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Cronicando o Piauí: Liberdade

Hoje, acordei com a gravidade de uma folha de papel, em branco, que despenca do 8° andar. Com a liberdade de um louco. Sem amarras, sem algemas. Livre: da psiquê e do soma. A cidade amanheceu de face lavada e saudosa. O dia promete. No quintal, em frente à mangueira, abro os braços, respiro fundo, fecho os olhos, ouço pássaros rasgarem os peitos em uníssono e sinto as nuvens arrastarem os pés em algodões. Sem pressa. Para mim e comigo, tenho todo tempo do mundo hoje. Sem perrengues. Sem passado pesado.

Começo desfazer o novelo das tarefas triviais e mesquinhas. Estas de todos os dias que nos igualam aos brutos. Meu cotidiano é em teia de tijolos e carros, jamais em rede interativa. Gosto das aranhas, fujo dos toques e das telas. Hoje amanheci com sabor de riacho. Açude que rompe a vida e borra a paisagem de risos. Levo minha mãe ao médico e fico à porta do consultório, sentado em uma mureta à sombra, indagando-me, para onde o destino arrasta toda esta gente, nos seus automóveis. Lembrei de Sócrates na ágora onde ele praticava a maiêustica. Não há mais estacionamento vago.

As buzinas fazem as vezes das conversas. As farmácias estão lotadas(as pessoas entram na farmácia como se estivessem num supermercado. Pegam logo uma sacola e vão atupetando-as de medicamentos). Os consultórios estão cheio… o mundo está enfermo. As sacolas cheias de exames são acessório obrigatório. Para onde caminha a humanidade!? Tirando a dor da morte, o resto da vida, é só ilusão e besteira.

Os carros, deslizando sobre o asfalto, parecendo formiga atrás de um pedaço de doce largado na ponta de alguma calçada. Ou cupim procurando um pedaço de madeira podre abandonado ao pé do muro para se fartar.
Quando descer com a mamãe, passaremos no mercado para comprar umas verduras e umas frutas. Uma lata de doce de leite na banca da Raimunda, pega bem. Um dedo de prosa com o Zé Amorim, na sua banca de milho. Geralmente, o assunto é o carnaval, pois é o assunto que mais o agrado. Sempre foi respeitado quando participava na Ala da Bateria. Diz ele, que era tido como “maestro”.

Vou deixar a mamãe em casa e volto para banca do Jogo do Bicho, em frente à Biss, do meu amigo Marquim. Lá, saberei das últimas resenhas. Todo jogador que chega na banca, ao sentar-se no “divã”, traz consigo uma estória pitoresca.
Meu celular começa tocar, insistentemente, o que já é de praxe. São os convites das sextas-feiras. Convites de bares, de amigos, de botecos… Vamos nessa!

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