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Cronicando o Piauí: Mudanças

Hoje resolvi mudar!

Não vou mais ficar indagando o curso da vida. Vou viver de impulsos domésticos. Vou olhar a lida no retrovisor da compreensão. A paz do trigo será o beijo no fermento da comunhão. Passo a viver num mundo lúdico. Num arco-íris lunático. Os meus passos de ontem são o meu mapa de hoje e o livro de páginas amareladas do amanhã. Sou o galho seco e a terra árida. O meu sol nasce e renasce à noite. O vento da minha praia assovia em sol maior.

O canto do pássaro me garante o expediente. Costumo me banhar no azul e no verde do mar. No céu e no seu algodão jogo bola de sabão. O medo é o meu radar. É uma antena que me faz pensar. O abismo é o meu prumo e sua escuridão, meu rumo e pão. Quando chego ao topo, vejo que a jornada do mandacaru está na beleza que vinga na flor vermelha que varou os espinhos. O meu mundo apresenta-se a dois palmos do meu nariz. A imensidão não se encontra no oco dos olhos, mas no fundo da alma. A tempestade em alto mar é minha calma. Ainda espero o peixe, deitado sobre o leme da canoa, lamber o anzol. Uma metade de mim é tecido rígido a outra parte é nudez e riso. Os meus pés estão rachados em labirinto de fiasco de luz. Essa areia fria na sombra do ar deixa-me com sono. Gosto de bocejar estrelas. O meu pêndulo vai para lá e para o sonhar. Assim sou eu no raio laser asfáltico da minha cidade no caminho do meio.

Sendo cravo, quero borboletas. Você veio vindo no chuvisco e esbarrou em mim. Bravatas do amor. O amor bélico. O meu corpo tosco invadio o picadeiro. O palhaço perdeu-se em ser circo e círculo. Vá andando a palpadelas, quando topar, pegue a rua Direita.

– No meio da rua, encontrarás uma mulher com um cântaro na cabeça. Siga!

Hoje resolvi mudar: vou cantar, vou amar!

A serra me liberta quando abro os braços, grito e sou lido pelo destino. Gosto do caboré. Lá na serra é onde me encerro, sou selvagem e fera. Gosto tanto de ser só que muitas vezes me dispenso para ser arte e mártir. Gosto de cravar com caco de telha meu nome na testa da calçada. Talvez, ilusão de terráqueo, um objeto não identificado venha me abduzir. Gosto de “viajar”. Devaneios. Não se preocupe, é loucura mesmo! Gosto dos loucos. Os alquimistas estão chegando. Sou ocultista. O meu paladar é inflamado pelo fogo. O açoite compõe o meu coito. A minha âncora fica no céu, nunca no mar.

Sou um marujo enferrujado pelas ondas do amar. Vem, do meio da lua, ó mulher, me salvar! Vou botar em teu dedo anelar uma aliança de pavio de lamparina pro nosso amor alumiar. Queria tanto uma boca feminina para beijar, decifrar e jamais saber o que essa língua adoça em voos de deságua. Já botei um tijolo de graveto de jeito no canto da árvore e no canto do pássaro para te ninar.

Descendo a ladeira íngreme de braços abertos feito gavião, perdo as pernas na velocidade e raspo o talo do nariz no chão. Queria ser avião. Sou um mito fundido em escaravelho. A minha baladeira é a Carta de Alforria dos pássaros. Com ela quebro gaiolas e alçapão. Os meus tênis adoram passear: no céu, na terra e no ar. Amanhã vou pedi a Deus um copo de caldo-de-cana e dois pães massa-fina. Sem manteiga e sem ovo. Queijo é bom com café preto. A pancada no pilão é o diapasão dos meus dias. Queria tanto ter um amigo bem-te-vi. Passo horas a fio conversando com minhas plantas. São um ótimo divã.

Nunca reclamam das minhas falas. Sentar à beira do rio, juntar as mãos em concha, encher de água e lambuzar o rosto. É surrealismo impriau e legal. Quando cato arroz, sou feliz, um menino impuro, e minhas mãos ficam prendadas. As mulheres em vestido de chita roubam meus olhos e meus olhares. Sou foco. As petecas da infância, que guardo em mim, só liberto nos dias de chuva rala. Sol, fornalha dos meus medos. A lua é meu angu. O caminhar da mulher faceira me deixa surdo e nu. O concreto é o capataz dos pés. O mistério da dor está na mente do capitão do mato. Ou no circuito do relho? Gosto das alcoviteiras. Sempre me favoreceram…

Amanhã será um lindo dia!

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