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Cronicando o Piauí: Naquele tempo

O outro lado. Londrina, PR, 1955. Foto: Marcel Gautherot/Acervo IMS

Na década de 70, o seu Otto era nosso vizinho na rua Poeta Domingos Fonseca(quando o poeta falace, o papai fala com o vereador Toranga, à época, para entrar com um requerimento para pôr o nome dele na nossa rua. Pois o poeta e o papai viviam juntos fazendo serenata. Eram amigos-irmãos) e ele tinha uma empresa de ônibus que faziam as linhas Usina Santana – Buquinha e Usina Santana – Caiçara. Todos os dias ele e o Tarciso estavam lá debaixo do ônibus. Bota pneu, óleo na caixa de marcha, aperta parafuso, varre e, por fim, lava ônibus.

A rodagem era de chão. Carroçal. No verão poeira, no inverno lama. Os vidros das janelas parecia que iam cair de tanto trelar. Os cabelos da gente ficavam amarelado e duro da poeira. No tempo das chuvas, que eram torrenciais, chegávamos melado de lama de tanto empurrar os ônibus para desatolar. Quando voltavam das viagens tinham que sofrer reparos.

Nas férias escolar, seu Otto dava férias pros cobradores e eu e o Joãozinho éramos os substitutos. Um dia ele ia pro Buquinha e eu pra Caiçara, no outro, permutávamos. Quando chegava o final do dia sem os ônibus dar o prego, o que era raro, parávamos no bar e aí os motoristas ficavam tomando cachaça com cajá, que eles já traziam no bolso. No final da linha da Caiçara, parava o ônibus debaixo de um cajueiro enorme, almocávamos na casa de uma senhor, da qual não recordo o nome, uma comidinha caseira feita no fogão à lenha.

Ela esticava umas redes na varanda e ia passar o café. No Buquinha, era na casa de um senhor, que também não lembro o nome, que tinha um comércio. Comidinha caseira no fogão à lenha. Agora, com refrigerante pra mim e cachaça pro chofer. O ônibus ficava debaixo de um pé de tamarindo, e nós, na rede.

Às 15h, acordava com ele acelerando e buzinando, para avisar que dali a meia-hora iríamos partir.

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