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Cronicando o Piauí: Pureza

Queira-me irresponsável. Oxalá feliz.

Homens sucatas aos montes sobre escombros de osso e carne. Nossos dias são em chuvas de plástico. E as manhãs são em flores de aço. Nas veias, correm gasolina, dívida, dor e cansaço. O relho são as contas a pagar. O bêbado é o pecado do trago de cachaça fiado. Coma maizena ou coma quiabo para não morrer do coração. Até os pés perderam a personalidade. Andam vestindo etiquetas de couro raro trabalhado. Pétalas ao rio: são as multidões opacas arrastando-se pelas catedrais do consumo imundo. Os jovens estão de joelhos diante das vitrines das lojas caríssimas do shopping.

As meninas transformam-se em árvores de sacolas de marcas raras e caras. O pobre vai à feira, com a responsabilidade, de trazer um quilo de carne, com o bolso cheio de pataca. O carro deve ser, assim, como o celular, trocado a toda primavera ou no décimo terceiro salário. Os móveis da casa também. As roupas no Natal e no resto do Ano Novo. Importante é ter contas a pagar e uma vida no balcão da farmácia. Hoje em dia, os balcões estão em voga: balcão da concessionária, balcão da farmácia, balcão da loja, balcão do bar, balcão da mortuária… As macas frias nos corredores dos hospitais, ou a laje fria na sala fria do IML.

Ninguém quer frequentar o balcão da vida sem covardia. Ninguém tem tempo de ousar a viver a vida com alegria. Estão todos pagando contas e comprando o que não lhes é necessário. Um terço da vida dormindo, um terço e meio de senzala e escravidão e meio terço de ansiedade, preocupação e depressão. A condução já sabe a condição e o caminho para o porão. Somos sazonais: em dezembro todo mundo para a praia; em julho todo mundo para praia. Agora, esperar o final do ano chegar. Realmente, uma vida de gado marcado. O mais rico foi para Barra Grande, Jeriguaguara, Porto Seguro, Porto de Galinha, Angra dos Reis… Disney, Cafés de Paris e etc. Quanto mais imbecil, mais distante a paragem e passagem. São os nababescos. Corpos sujos e luxuosos.

“Enquanto isso, na sala de justiça”, vou passear em Altos ou em União. Comer sardinha com cachaça e limão. Vou saí sem rumo pro lado bom do sertão. Enquanto eles estão em coma ou em Roma, estou chupando picolé no Troca-Troca, olhando o Parnaíba, sentado ao chão.

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