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Cronicando o Piauí: Puxando conversa

1994, ano de Copa do Mundo. Morava em União e trabalhava no Banco do Brasil. Na agência, havia um caixa para cliente especial. Era sempre escalado para aquele guichê. Eu e o Marquim, amigo do banco, estávamos afundados no cheque-ouro. Assim, como o Maracá, gerente da farmácia São Raimundo, e o Reinaldo, dono de uma outra farmácia. Todos afundados no cheque especial.

Um belo dia, estou atendendo no caixa, quando chega o Beto Viana – rico e altamente inteligente, gostava de ser caboco, vestia camisa cambraia de linho, mas abotoava os botões de forma desencontrada só para ser matuto. Sou seu fã número 1! Logo ali, chegaram o Maracá, desanuviado e ofegante, e o Reinaldo.

“Rapaz, nem conto pra vocês!”  Deu uma pausa e tomou um folego. O Reinaldo apressou-se, pensando ser algum fuxico.

“Conta logo, porra!” Como era segunda-feira, e nas segundas, era o dia, em que as nossas mulheres, ou iam embora ou nos mandavam ir. Pensei: Vem chumbo-grosso!

Antes, de rasgar a notícia, pediu a presença do Marquim.

“Li no jornal O Dia, hoje pela manhã, que o Hotel Pousada Barra Mares, vai comprar as ações de volta, de quem quiser vender!”

A cidade inteira havia comprado ações. Estávamos todos devendo até os cabelos da cabeça ao banco.
No final do expediente, nos encontramos na tradicional Lanchonete Avenida, do seu Zé Silva. Fomos para a capital no Voyage do Marquim. Todo atrasado. Com o Licenciamento de 1992. Multas e pneus carecas. A gasolina só no cheiro.

Chegando, fomos à emplacadora do Geó. Nosso amigo de outros carnavais(quem tocou no casamento dele, foi a nossa saudosa Ronca & Fuça. Mas está é uma outra estória). O Marquim queria saber quanto custava para botar o Voyage em dia. Ora, chegamos lá, todo mundo liso. O Geó entrega os documentos à secretaria e nos leva a um barzinho em frente para tomarmos umas cerveja, enquanto ela fazia os cálculos. Bebemos 12 (doze), ou meia dúzia. Combinamos o seguinte: quando o Geó pedi a conta, a gente se levante e diremos que voltaremos mais tarde. Assim fizemos. A despesa ficou por conta dele. Estávamos sem nem uma banda. Fedendo.
Lisos, lesos e loucos, comprando fiado e pedindo o troco!

Fomos ao escritório do Barra Mares, ao lado do Centro Artesanal. Antigo Quartel General. Em frente à praça Pedro II. Fomos atendidos por uma moça morena sorridente, educada e gostosa (hoje seria assédio moral e assédio sexual, chamá-la de gostosa). Falamos do desejo de vendermos as ações. Ela nos serviu água e cafezinho, enquanto o investidor, o visionário chegava. Quando ele chegou, nos levou para sua sala. Nos expôs a maquete do projeto final. Conversamos, conversamos e conversamos. Toda conversa regada a muito champanhe. Haja champanhe e haja conversa. Ele vira para nós e diz: “Rapazes, deixem de ser loucos, isto é um investimento de futuro. A longo prazo. Vamos construir um resorts e um campo de golfe. Os caras estão vindo da Europa para fechar o contrato. E tem mais, marquem um final de semana, que vocês queram ir à Barra Mares. Vou disponibilizar uma Kombi para levar e trazer vocês e a família. A estadia será por minha conta!”

Esquecemos a venda das ações e saímos fazendo planos para a viagem à Luíz Correia.
Fomos ao restaurante do Pedro Silva, irmão do Zé Silva. Bebemos e comemos duas carnes-do-sol cozinhadas no leite. Uma delícia. Macias. Fofas. Tomamos umas 15 (quinze) cervejas.
Saímos e fomos ao Nós e Elis. Tomamos todas e dançamos carnaval. Era o primeiro grito de carnaval em Teresina. Lá pras tantas, o Reinaldo baixa a cabeça sobre a mesa, e diz: “Estamos fodidos!”
Eu e o Maracá não escutamos e voltamos pro meio do salão. Quando voltamos, estava o Marquim e o Reinaldo dormindo sobre a mesa. Eu, macaco velho, havia levado um talão de chegues com 20 (vinte) folhas. Novinho em folha. Fui só distribuindo chegues e vivendo a vida.

Pegamos a PI 112… O Marquim chorava de um lado e o Reinaldo, do outro. Chegamos às 4h da manhã: lisos, lesos e bêbados. E agora, lascados.
As mulheres, sabendo do dinheiro, foram à loja do Luquinha, compraram meio mundo de coisas: cadeiras, espelhos, liquidificador, almofada, sofá… Foram ao Píer Bar, comeram do bom e do melhor, e beberam todas. Confiando no dinheiro das ações.

No outro dia, as mulheres estavam nos odiando. Aí, fomos pro pagode com a Ronca & Fuça beber cantar no povoado Novo Nilo.

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