Ícone do site 100% PIAUÍ

Cronicando o Piauí: Seguindo a vida

A vida anda solta! A vida está vadiando…

E o mundo se arrasta pelos lares, quitandas, mercados, ônibus, escolas, trabalho… homens enlatados, apressados e atrasados em seus automóveis de lixo e de luxo descartáveis nos semáforos. Agora, pasmem, o coração é o motor e do sangue o trabalho é o óleo. O cardíaco está em transe. O corpo aquece o divã e sufoca a consciência. A grana é parca, opaca, pouca e fosca. Pela manhã, os homens vão; à tarde, retornam. Sem saber para onde vão.
Os ônibus estão lotados que nem lata de sardinha no asfalto.

A moça corre da moto com medo do assalto. As buzinas frenéticas são a alvorada das esquinas. Todos querem chegar. Não se sabe onde e o porquê da chegada. A multidão desnorteado e assalariada passa fome fardada de office boy e escravo. Do alto do edifício vejo uma turba acelerada descendo colorida pelas ruas como se fosse um oceano de lixo reciclável. Estão todos cegos: não se falam, nem se tocam e nem se olham. Cada um no seu quadrado. Pensam está vivendo enquanto são pisoteados, explorados, importados e exportados. Os rostos ou estão em lágrimas ou então engessados.

Os sapatos apontam para onde devem segui. Às senzalas estão top com ar-condicionado, cadeiras confortáveis, tecnologia de ponta, em aranha-céu… Os senhores do engenho, agora, senhores da tecnologia são bons em ludibriar seus zumbis da escravidão. Os navios negreiros são shoppings com vitrines avantajados. Com roupas caríssimas. O que importa aos senhores feudais da tecnologia é que os robôs não parem para pensar.

Que vivam sufocados pelos cartões de crédito e de débito. Assim, acumularão milhas para ir ao inferno de Dante Alighieri… Com o smartphone cairão no abismo do esgoto da metrópole. Quantos serão os órfãos dos sanatários? Quantos os enforcados? Quantos serão os alcoólatras? Quantas viúvas? Quantos viúvos?
Depois o esquezofrênico sou eu! O lunático sou eu! O alienista sou eu! O bobo da corte sou eu! O picadeiro e o palhaço sou eu! O epiléptico sou eu! O tolo sou eu!…

Só porque vivo a comer estrelas, dormir de rede com a lua, dou-me a bailar na ribalta com as borboletas, vivo a pescar andorinhas no largo da igreja, comer picolé com os pardais no banco da pracinha, passar horas proseando com mendigos poliglotas da vida, gosto de andar de moto pra voar com as nuvens de algodão… depois o maluco sou eu!!!

Viver é saber ser infância.

Sair da versão mobile