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Cronicando o Piauí: Tranquilidade

De leve e sempre! Sem atropelos… Acompanhando o badalar do sino da catedral em meio a multidão. A onda agora é caminhar sossegado. A manhã hoje amanheceu despreocupada. O dia não despertou menstruado. Está brando e sem tensão pré-menstrual. Com o dia nublado as andorinhas voam tranquilas. As pardocas citadinas saíram de cena. Abandonaram o picadeiro. As pessoas transitam mornas sem a emulação do calor dos raios do Sol. As buzinas andam menos frenéticas. O uniforme, em marcas de suor, do pobre pedreiro, desce em bicicleta, rumo à construção.

Semáforos, pela manhã, são soberbos. Um senhor, com o caminhar pesado, segue pela calçada, conduzindo um saco de papel pardo, cheio de pães. Os controles, apressados, vão abrindo as porteiras dos condomínios. É hora de descer para a lavoura mecânica, para os departamentos das senzalas hodiernas. O office boy apressa-se em coletar as correspondências nos Correios. O relógio mundano nunca descansa. Seus ponteiros, frios e moribundos, vão distribuindo: ansiedade, suicídio, acidente, depressão, estresse, lágrimas, perdas… semeiam dias de angústia, de sofrimento… São aves agoreiras.

Eu, debaixo de chuva, entre galinhas, patos e capotes… vou comer caju, tirado com a mão, no cajueiro. Descalço, vou pisando na terra para regula a minha frequência: trago, em mim, o positivo e o negativo, a terra o neutro. Prefiro andar à toa pelos campos a defender tese de doutorado. Sou homem do senso comum. Meu livro está estampado no firmamento: nas suas páginas, leio estrelas, lua e sol, tempos e intempéries. Sei quando devo plantar e quando colher. Faço a experiência no dia de Santa Luzia, com doze pedrinhas de sal num prato, para saber como será o inverno. Quem dar exuberância à roça é o inverno. Os olhos do sertanejo brilham ao ver o milho verde. Suas mãos folheam as vagens do feijão em prazer de festa.

O ritmo da batida do pilão desnudano o arroz de sua casca, é a alegria do seu celeiro. O gado, ruminando deitado debaixo do pé de faveira, é o futuro da prole. Tendo pasto, tem vida. Tendo lida, tem Deus. O bode e o Carneiro aumentam rápido o aprisco. São duas crias por ano onde pode ter parto de dois. Do couro do gado, faço a alpargata e o tamborete.

Aqueles que vão em colóquio com as estrelas e com as borboletas são tidos por loucos. Não quero ser o pescador, porém, a rede. Quero a ser canoa para deslizar a barriga n’água. Que a labuta fique pros braços e pro remo. Minha passagem pelo planeta Terra será uma odisseia. Só levo um par de tênis, dois ou três calções, quatro camisetas, um boné, um chapéu de palha, um celular para registrar minhas bobagens, uma mochila com: papel, sorriso, caneta, afeto, minha Bíblia, coragem, Dostoiévski, um pouco de loucura, pois sem ela não vivo, Kafka, um tanto de besteira e bobagem por sustento, Lima Barreto, camaradagem, Machado de Assis, estrada de barro, um Dom Quixote como “escudeiro” e peripécias de Exupéry.

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