Ícone do site 100% PIAUÍ

Cronicando o Piauí: Traquinagem

Hoje, vou acordar tarde. Quando o acaso entender. Tudo tecerei com muita parcimônia. Economicamente avarento em termo cotidiano. Como fosse o meu último dia por estas paragens. Como se se desse a minha despedida. Demorarei para levantar. Em tudo serei lerdo. Serei exímio nas engrenagens do labor. Pegarei sabonete, toalha, shampoo, pisarei a terra com a planta nua do pé e banharei de ducha, no meu quintal, olhando para o céu matutino, como se estivesse numa cachoeira deixar a água cair. Farei minhas tarefas doméstica e de crença sob a mangueira com os bem-te-vis a cantar e as galinhas a catar. Acenderei uma vela ao meu Anjo da Guarda e outra à Nossa Senhora Imaculada da Conceição.

Porei ração para a Peteca e para a Tangerina, esta, cadela de minha Ananda que está hospedada aqui enquanto passa o cio, pois ela cria seis cachorros e oito gatos. Jogo milho para as galinhas. Tomo um copo de água bem gelada. Uma colher das minhas panaceias adquiridas no Mercado Central. Tudo homeopático: óleo de copaíba, óleo de andiroba, raízes, romã, lambedor de mel com azeite do pequi e etc… Aí, vou preparar o café, assar o queijo, fazer ovo mexido… depois, um pouco de coalhada, adoçada com mel das serras do município de Simplício Mendes. Ligo a televisão e a deixo falando sozinha.

Agora, vou subi até a casa da mamãe, para tirar uns dedos de prosa com meu irmão e minha cunhada que na segunda de madrugada estarão retornando à São Paulo. Cidade a qual jamais penso em conhecê-la. Falamos de alguns projetos para 2019: os meus nunca os concretizo.

Desço para a banca do jogo do bicho para encontrar o Marquim e fazer uma fezinha. Ontem, joguei a milhar 1721, deu a 1722. Ganharia $ 1.600,00 reais. Era o churrasco do final de semana. Jogo novamente a milhar, do primeiro ao quinto, só no milhar. Sem centena. Só milhar. Como a banca fica na calçada da Biss Restaurante, não falta gente para tomar cachaça e para participar da resenha. O Alnejair, o José e o Mário ficam preparando o espetinho, a picanha e o filé para o movimento da noite, mas ficam de orelha em pé no assunto ou fuxico do momento. Na rádio calçada, sai de tudo: futebol, política e mulher. Religião é um assunto de baixa cotação. É uma seara inexplorada.

Hoje, que já é sábado, tem a panelada, o caldo-de-carne e a mão-de-vaca, com pimenta malagueta “in natura”, do “Telemar”. Chega com sua bicicleta montada com um mini-restaurante: uma lixeira, lenço, copo descartável, prato descartável, farinha, pão e arroz branco. O tempero da sua esposa é picante e saboroso. Logo acaba a oferta. Agora, a galera abastecida, cai cana até umas horas. Com o tempo, só aumenta o contingente. Se fosse para brocar uma roça não aparecia tanto marmanjo. Às 12h, o Carlim fecha a parte do frigorífico e frutaria, mas deixa a porta de “socorro” para atender aos cachaceiros. Às 17h, é o fechamento da porta da “felicidade”. Aí, a turma vai para o boteco da Toinha…

Às 22h, ainda há neguim bolando pela Toinha. Quando não inventamos de ir para o povoado Alegria comer panelada e tomar cachaça no César. Ou então ir pra “casa de mulheres de vida fácil” da e… Enche-se a caixa de música de crédito e botamos para tocar até umas horas…

Sair da versão mobile