100% PIAUÍ

Cronicando o Piauí: Uma rotina

Seu Vitória toda manhã lavava a sua Variant amarela. Era taxista. Quando passava para ir à escola, ele já estava passando a flanela no seu bem-querer. Seu cabelo era liso, fino e ralo. Estava sempre nu da cintura pra cima e vestido numa calça social com as pernas arregaçadas à altura da canela. Calçava sempre uma alpargata Havaiana de cabresto azul.

Quando empareava com ele, escutava seu conselho: “Estude meu filho pra não acabar como eu!” Sorria e seguia minha sina. Ele nunca teve filho. Criou um sobrinho, que assim que passou à maioridade, foi tentar a vida em São Paulo. Como dizia o poeta Belchior: “Pois o que pesa no Norte/ pela lei da gravidade/ isso Newton já sabia/ cai no Sul – grande cidade/ São Paulo violento corre o rio que me engana”. A casa, em que ele residia, era alugada. Um dia fui com o papai no carro dele. Extremamente limpo e cheiroso. Aquele bem, pra ele, parecia ter vida. Era como se fosse um bichinho de estimação.

Algumas vezes, quando passava para ir à Unidade Escola Maria de Lourdes do Rêgo Monteiro, antiga escola Normal e atualmente onde fica a Prefeitura Municipal de Teresina: ao lado da praça da Bandeira. Em frente à mesma fica a Igreja do Amparo e o Luxor Hotel. No lado oposto à prefeitura o Museu e o Mercado Central. Ao fundo, em frente ao rio Parnaíba e à cidade de Timon/MA., o Shopping da Cidade (onde, nos idos de 1970, era a Parada Final dos ônibus), ele estava resmungando, como quem estava falando com seu xodó. Depois, de algum tempo, ele mudou-se. Perdemos o contato. Casei, passei pro Banco do Brasil e assumi em Gov. Archer/MA. Em 1991, fui transferido para União/PI, que dista 60Km de Teresina.

Amiudei as minhas idas à capital, onde nasci, e um certo dia, numa mesa de bebida, no bar da “Veia Feia”, um amigo disse-me que ele havia falecido. Enchi os olhos de lágrimas e respirei fundo…

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