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O Vestido: As crônicas de Ananda Sampaio

A crônica é um dos textos que mais se aproxima do leitor, e que mais evidencia os pormenores de um escritor. De certa forma, é nela que entrevemos a face do autor. Outrora ligada a assuntos de interesse público, tendo como lugar privilegiado páginas do jornal (ainda a encontramos lá, é claro), com o tempo foi se diversificando. Não é incomum identificá-la com o humor, o que de maneira alguma significa que toda crônica deve objetivar o riso. Nada contra, mas nem só de graça viverá a crônica. O dia a dia permanece como seu principal campo de atuação ou laboratório.

A brevidade da crônica tem se refletido ou resultado frequentemente em textos de três, duas, uma página, menos até. Que a sua pequena extensão não leve o leitor a conferir pouco importância a ela, afinal, nomes como Rubem Braga e Fernando Sabino comprovam que o gênero pode impor-se entre as mais altas criações literárias. Seus temas são os mais variados possíveis, como a exibição de um filme, conforme o faz Luís Henrique Pellanda em “Matar ou não matar”, ou uma reflexão sobre as imposições da vida em “Eu sei, mas não devia”, de Marina Colasanti.

Reprodução: Pixabay

Depois dessa rápida introdução ao assunto, e espero não ter sido prolixo, me disponho a tratar da obra O Vestido, de Ananda Sampaio. E inicio com um comentário de Cineas Santos, contido na orelha do livro: “Percebi que, em meio aquela prosa cheia de nuanças e sutilezas, havia muita poesia entranhada e um enorme desejo de comunicar-se com o mundo”.  A prosa de Ananda está pontilhada dessa poesia, como bem observou Cineas. Quanto ao “desejo de comunicar-se”, isso fica evidente na clareza da escrita, na escolha pela simplicidade e por não optar por fazer rodeios.

As crônicas reunidas no volume, em boa parte lidam com memórias e os sentimentos trazidos à tona por elas, com o cotidiano e suas sutilezas, lutas diárias etc. As miudezas são coletadas para formar o mosaico de crônicas que compõem o livro, voltando o olhar para o transporte público, o mercado, casas, dentre outras coisas. É a voz de quem se sensibiliza com a vida, de quem está disposto a olhar de perto. Nesse percurso, algumas menções são feitas, dentre as quais Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles. Como é possível identificar durante a leitura da obra de Ananda, o tempo é uma questão importante, como atesta a passagem abaixo, da crônica “O tempo também é meu”:

“A gente acumula e perde tempo. A vida é repleta de equações contraditórias. Deixa eu explicar melhor. Quando vamos ficando velhos, percebemos que o tempo não se alonga tanto quanto antes. Se antes passávamos horas conversando e comendo seriguela na casa das primas e tínhamos que usar de criatividade para preencher o tempo que se estendia como um tapete vermelho a nossa frente, hoje utilizamos o tempo minguado do almoço para ir à casa da avó ou dos pais. E, numa refeição apressada, tentamos atualizar a vida e reduzir a distância que se forma quando o desencontro é comprido.”

Com informações de: Ananda Sampaio

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