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Cronicando o Piauí: Uma pratada de coisas

Quando é Maria-Isabel, pego a banana, pego o copo d’água gelada, jogo a puáca da farinha sobre o vapor do prato, uma pimenta malagueta, umas rodelas de tomate, uns anéis de cebola, puxo a cadeira e sento ao lado da janela. Vejo a saia da mata onde a cor da flor pousa nas asas da borboleta, o porco roçando as costelas sujas de lama na casa dos cupins, o passarim que canta abanando as asas na cabeça da estaca e o céu que passa raspando o topo da serra.

O tempo fecha e a chuva sai furando o dia em forma de alfinete. Esse tilintar nas telhas pede a minha rede. Descanso o prato, o copo e os talheres na barriga da pia. Jogo a casca da banana casca-verde no lixo. Bebo mais um pouco d’água. Pego o palito de dente, abro a janela do quarto, deixo os pingos baterem em meu rosto de leve, alinho o chinelo debaixo da baladeira, embolo o lençol até virar um só nó, deito e ponho-o debaixo da cabeça. Ligo a TV, o ar e durmo…

Acordo de rosto amassado e olhos miúdos. Sonhei com jacaré e vaca. Mais tarde vou fazer uma fezinha no Jogo do Bicho. De um a quinta… parece até que sei o quê estou falando. Vou só repetindo o que ouço o Marquim dizer. Estilo papagaio. Me pego mangando de mim. Nunca fui bom de jogo de azar. Tenho andado na companhia do Tim, meu irmão, e do Marquim, meu amigão. Os dois são jogadores inveterados. Eu jogo, e, na maioria das vezes, não confiro. Sou um bosta neste quesito. Desço de moto com o Marquim pra fazer a aposta na banca que fica em frente à Igreja São Francisco.

“Vou ligar pro Tim pra saber se ele quer fazer logo o dele!” Eles jogam todo dia. Descemos pro Cristo Rei. Paro no posto e boto $ 20,00 de etanol (está $ 1,09 mais barato que a gasolina). A frentista, muito simpática, de sorriso largo, recebe o cobre e agradece a preferência. “Que morena, Netão!” Dou um sorriso de soslaio e acelero. O cara não perde tempo. Já vai falando da proeminência que o macacão assume abaixo da cintura.

“Ô cusdiacho!” Pegamos a Odilon Araújo e paramos no Restaurante Tropical. Uma carne-do-sol com muito tomate, muita cebola e uma Antártica canela de pedreiro. O Tim chega. Conversa vai, conversa vem. O pessoal começa a chegar pro almoço. Muita mulher. Neguim fica com torcicolo de tanto girar a cabeça. A turma não perde um lance. Vamos pra Biss. Tomamos cinco e saímos pra comer uma panelada no bar do César. “Hei, vamos lá naquele barzinho do Morada Nova, onde o Fernando Down nos levou!” Tô vendo que o passeio vai ser longo. Deixo a moto em casa e vamos no carro do Tim. “Será se as meninas vão está lá hoje!?” Morada Nova é o destino.

Decidido por unanimidade. Sentamos embaixo dum pé-de-nim. Veio uma cerveja e uma dose de uísque pro Marquim. “Vão querer alguma coisa pra comer!?” Nos olhamos. “Não amigo, agora, não!” Ficamos apreensivos. “Hei, será se as meninas irão aparecer hoje?” Rasga o Marquim. “Depois das 17h, não sobra uma mesa!” Os olhos brilhavam e vibram de alegria. “Vamos ficar na área!” Alguém exclama sorrindo. Papo vai, papo vem. E as cadeiras e as mesas vão sendo preenchidas. Um olhar. Um sorriso. “Mano, por favor, bota uma cerveja pras meninas daquela mesa!”

Os sorrisos e os olhares varam os lábios e a noite. A alegria estava à flor da face e das bochechas. Neguim tá que não cabe dentro da roupa. Mais sorrisos… Conversas ao pé-do-ouvido. Tanto de lá, quanto de cá. “Põe outra lá!” Sem demora ele despeja outra Devassa estupidamente gelada pra elas.

“Se vcs quiserem chamo elas pra sentar aqui!” Entreolhamo-nos. “Por mim, tudo bem!” Conversam e elas sorriem. Uma se levanta, determinada, põe o celular dentro da bolsa, põe no ombro, pega o copo e se dirige à nossa mesa. As outras acompanham o ritual e a seguem. “Por favor, põe mais uma mesa, amigo!” Agora, quem vai sentar ao lado de quem. Levantamos e esperamos ele acomodar as mesas e as cadeiras. Enquanto isso, vamos nos apresentando…
(…)
Às 4h da manhã, caldo de cabeça de peixe, sanduba, hot dog, cerveja… e… e… e… no Restaurante Altas Horas.

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