O Grupo de Teatro da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) estreou, nessa segunda-feira (10), “O Santo Inquérito”, famosa peça escrita por Dias Gomes, no Laboratório de Artes do Campus Poeta Torquato Neto. O primeiro dia foi destinado a convidados. O espetáculo prossegue nesta terça-feira (11) e vai até sexta-feira (14), às 18h.
Os ingressos custam R$ 10,00 e podem ser adquiridos presencialmente na Pró-reitoria de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários (Prex), do Campus Poeta Torquato Neto.
A peça conta a saga da cristã-nova Branca Dias e sua família, acusados de prática de judaísmo e perseguidos pela Inquisição, na Paraíba do século XVIII. O texto foi escrito por Dias Gomes na década de 60, período de intenso autoritarismo e censura política, e conta a história dessa mulher que não ia à igreja e que ousou ler, em um período que as mulheres não podiam. Por ser uma mulher totalmente libertária e desafiadora dos padrões machistas da época, os acontecimentos e a decepção da protagonista formam uma combinação que culmina num desfecho forte e impactante.
O diretor da peça, Moisés Chaves, afirmou que o principal objetivo da peça é discutir sobre o feminicídio, assunto bastante debatido nos dias atuais. “No momento em que o Brasil inteiro discute o fato de uma mulher ser morta pelo simples fato de ser uma mulher, nós decidimos montar a peça com o objetivo de aproximá-la dessa situação em que vivemos, reconhecendo que esse fato não começou agora e persiste há muitos anos”, pontuou o artista.
A atriz que interpreta Branca Dias, Gilvana Morgana, contou que se envolveu bastante com a personagem, visto que ela a inspirou a tomar grandes decisões na vida. “Quanto mais eu conheci a Branca Dias e suas falas, passei a levar essas lições para a minha vida. A personagem me emociona bastante e me inspira a ser mais forte. A peça mexe muito com as nossas emoções”, esclareceu Gilvana.
O ator Cairo Bruno, intérprete do Padre Bernardo, relatou que a peça narra a relação da Branca Dias com o Tribunal do Santo Ofício. “Meu personagem é um padre jesuíta que tenta “salvar” a alma de Branca do pecado e do inferno. Porém, ele acaba nutrindo uma paixão por ela”, revelou o artista.
O ator Kaio César, intérprete de Augusto Coutinho, noivo de Branca Dias, explicou que a peça tem questões bastante atuais. “Tem discussões acerca do papel da mulher na sociedade, sobre os dogmas e o poder da igreja, política, entre outros temas que ainda são bastante discutidos na atualidade”, falou César.
A professora Maria da Cruz, pró-reitora da Prex, declarou que faz-se importante presenciar o espetáculo por ele discutir questões atuais, apesar de ter sido produzido na década de 60. “Ele discute os direitos humanos e a violência contra a mulher, temas que são relevantes na atualidade e que devem ser discutidos”, constatou a docente.
O diretor contou que o grupo de teatro tem mantido a tradição e o respeito ao teatro tradicional. “Essa peça é teatro puro e de qualidade, onde o ator é a principal engrenagem. Nós aguardamos todos que ainda não conhecem o grupo de teatro e a peça a prestigiarem esse espetáculo”, finalizou Moisés Chaves.