Gosto de andar à toa, sem rumo, sem remo, sem dreno, sem freio e sem relho. Somente eu e a canoa: rua abaixo, cidade acima.
Trago em minha consciência, que andando à esmo, afogo a razão e trago à tona os sonhos. Sinto-me sem amarras, quando deslizo em tênis velho sobre calçadas, calçamentos e asfaltos nas ruas singelas, pacatas e mansas da cidade.
Gosto de andar sozinho, para consumir o tempo conversando com minhas dúvidas, meus remorsos, minhas crises existenciais, minhas fugas, minhas rugas, meus grilos(com e sem asas).
Fico o tempo todo tentando me enquadrar em uma linhagem de ser extra ou intraterrestre. Buscando passos e traços, que se aproximam ou que se distanciam do meu passado.
– Quem sou?
– O que estou fazendo aqui?
– Quero pelo menos saber onde estou!
Tento encontrar pelo menos um sentido, ou, quiçá, uma direção. Ainda que opaca. Mesmo que seja uma inflação.
Ora, encarar a vida de frente, não é um bom presságio. Dizem os mais velhos. Penso, e relaxo!
Levar a vida como um eterno jogo lúdico. Interessa-me! Penso, sofro e rio.
Quando penso que tudo não passa de uma sarcástica brincadeira, deparo-me com uma criança com o rosto em suor e fuligem, implorando uma esmola: “Pelo amor de Deus, uma esmola!”
Neste exato momento, tudo vai por água à baixo. Uma migalha de pão, quebra toda minha tese.
Agora, passo a encará-la como um profundo mistério. Tenho que trazer toda responsabilidade do mundo em mim. Aqui nesta bendita terra, se morre por falta de um pedaço de pão.
Enquanto uns carregam milhões, outros sofrem por uma fatia de pão.
E aí, devo levar a vida a sério ou devo fazer dela o meu passeio público!?