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Cronicando o Piauí com Antônio Neto Sampaio – A história de Dasdores

Conta a Dasdores que nasceu no município de Porto do Piauí e com ela são quatro irmãos. Seu pai agricultor, sua mãe quebradeira de coco babaçu e dona-de-casa. Quando o irmão caçula completou dois anos de sofrimento sua mãe faleceu. Sendo a filha mais velha da prole assumiu as tarefas da matriarca aos 10 anos.

O pai saía de manhã pra roça e ao final do dia passava no rio pra tentar levar um peixe pros filhos que ficaram sem café e sem nada pro almoço.

Imagem Ilustrativa da Internet

A Dasdores com o irmão menor enganchado à cintura e os outros dois mais novos iam catar coco pra quebrar e ir vender na quitanda pra comprar o que desse de arroz e farinha.

Quando o pai chegava trazendo uma abóbora, uns peixes ou nada, o arroz já tava feito no fogareiro: três pedras no carvão da casca de coco.

Assava o peixe na brasa. E ali estava a refeição do dia.

As paredes da casa eram de palha comida de tanto os bichos alheios transitarem por dentro. Não tinha porta nem janela.

Um dia, quando voltava da venda do coco com os irmãos encontraram uma vaca muito bem deitada na sala e ruminando o seu capim.

O chão era de barro, quando chuvia ficava só a lama. O que havia de mobília na casa era um pote em cima de umas tábuas velhas, as três pedras como fogão, um pedaço de espelho, um pente quase sem dentes. Na cozinha um fósforo, um resto de sal e um pouco de corante enfiados nas palhas da parede. Três redes: uma pro pai, uma pra ela e pro caçula e uma pras duas irmãs.

Diz que falava para o pai as coisas que estavam passando. Ele ouvia de forma serena, não falava nada. Pela manhã pegava a cabaça, o chapéu, calçava as sandálias, botava o facão à cinta, botava o machado, a foice e a enxada as costas e ia cumprir sua sina.

– Seu Neto, nós vivia era ingual bicho. Não sei nem como ainda tamo vivo! Era fome, fome, fome…

Encho os olhos e dou-lhe um forte abraço.

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