Gosta de sentar em meio ao monte de pedras que restou de uma velha construção. Lá, termina de comer o pedaço de pão massa grossa que restou do café. Ao seu lado, como companheira inseparável, uma gaiola com um bigode-torneiro. No prego, que ele pôs na palmeira, depois de botar o alpiste e a água, e limpar o chão da gaiola, assenta a mesma no prego e fica degustando o mesmo banhar, tomar sol e cantar, até enjoar.
Se inclina, se deita sobre as pedras, cruza as pernas e começa a atiçar seu companheiro. Passa horas se deleitando. Sorrir quando o pássaro canta de “corrida”. Não relaxa a baladeira enfiada ao pescoço. Usa um cabelo desconexo. A unha do dedo “mindinho” nunca corta, somente, apara. Gosta de um boné, em posição normal. Seus calções são em, no mínimo, duas cores, pois são feitos de sobras de retalhos. Suas sandálias são, geralmente, muito sofridas. Quando arrebenta o cabresto, esquenta a ponta de uma presilha na lamparina e faz um suporte pois sabe que em casa a grana é rala.
Levanta, pega a gaiola, bota no arame dentro de casa. Procura o pedaço de vela que deixou enfiado nos buracos da parede de taipa, senta na ponta da calçada do vizinho e vai matar a frieira que já deu na carne viva.
Banha, sacode a cabeça para secar o cabelo, se enxuga com um pedaço de rede velha do irmão mais novo que rasgou-se. Almoça o que tem: diz mãe: feijão com arroz, o de sempre!
Uma e meia, passa com os livros à mão, pois não tem mochila. Ano passado, havia ganhado uma de segunda, de terceira ou de quarta mão. Mas logo rasgou-se. Com o boné relaxado sobre os olhos.
Passa roçando o muro na sua infinita timidez: sozinho e solitário. Agora sim, somos amigos do peito e das andanças, pois é sempre muito ressabiado no seu abandono social.
Às vezes, andamos de moto (o que ele chama de voar), tomamos caldo de cana com pastel, comemos picolé, comemos milho assado ou cozido, comemos pipoca. Seus assuntos cotidianos são passarinho e baladeira. Quando retornamos, encaixa:
– Vamos “voar” amanhã?
– Se Deus quiser!