Aqui, em Barro Duro, o tempo caminha lerdo e lento. O mercado público acorda às quatro da manhã, quando os magarefes começam a transitar com o gado às costas e as bancas de verdura e de fruta começam a tomar corpo e cor. Vai se ouvindo algumas gargalhadas soltas em batom e em bigode. Depois, o dia vai lentamente se dissipando pela pequena cidade. As portas vão tomando vida: abre a padaria, abre a borracharia, abre a farmácia, abre a lanchonete, abre o mercadinho…
Sobre o teto da igrejinha estão os pombos a se acariciar. Passa o leiteiro buzinando sua bicicleta, a turma do baralho estende a mesa debaixo da frondosa árvore à margem da BR, as motos em abundância sobem e descem às cidades (Barro Duro-Passagem Franca-Olho d’água-Água Branca). Passa o carroceiro raspando a cabeça do cachorro que dorme tranquilo e entediado com o barulho do som dos “paredões”. Na pracinha, a turma vai arrastando as pedras do dominó ou da dama…
Os limites da cidade são curtos, logo você está fora da sua jurisdição habitada.
Um senhor em cabelos brancos sentado em pernas cruzadas sobre um tamborete a baforar o cigarro-de-palha (vulgo pau-ronca). A casinha de pau a pique (ou de taipa) lá no olho da serra, e o barro que a sustenta é liguento e vermelho rosado, com uma bicicleta encostada à janela.
À margem direita da choupana e do velho a fumar seu cigarro em paciência, um cercado plantado em milho, em abóbora e em melancia. Lá, ao meio da roça, um espantalho em atalaia. Um chapéu em palha vestindo um homem a manusear uma enxada à mão, numa coreografia sertaneja em capina. As nuvens pesadas e escuras vão desenrolando o manto do céu onde o urubu vai desenhando o balé da fome. Uma senhorinha vai vendendo, junto à lombada da pista, com o apoio de uma coberta e de uma neta, sem relaxa o chapéu em palha, milho-verde, pitomba, melancia, castanha de caju e etc.
A Van parada, anuncia a chegada de alguém que foi à cidade comprar o mantimento do mês. Logo, à porteira, surge a prole em sorriso para carregar as compras, enquanto a matriarca desce com dificuldades os degraus da lotação. Enquanto isso vou ruminando “meu Deus, daqui que chegue às cinco horas da tarde, ainda tem é tempo”.