O evento promovido pelos Cinemas Teresina, em parceria com a Trinca Filmes e a Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) será a primeira Master Class de Cinema em nosso país realizada fora do eixo Rio – São Paulo, e acontece nos dias 9 e 9 de fevereiro. Diretor de fotografia carioca que começou como assistente de câmera na década de 80, em O sonho não acabou (1982), de Sérgio Rezende. Trabalhou também como fotógrafo de filmes publicitários e de curtas-metragens até se tornar diretor de fotografia e operador de câmera de longas de ficção e documentários.
Durante a Masterclass serão discutidas a imagem como narrativa e linguagem aos olhos de Jacques Cheuiche, que tem quase 40 anos de experiência. Em entrevista, ele falou sobre o início da carreira e a expectativa para a Masterclass nos Cinemas Teresina.
1. Durante esses anos de carreira qual foi o trabalho mais desafiador?
Todos. Porque cada filme é único, não existe nenhum igual ao outro. Podem até ser parecidos, mas até por serem parecidos, são desafiadores. Eu nunca vou fazer igual, tem o desafio da mudança. É aquela frase: “repetir, repetir sempre, para ficar diferente”. Acho que é de Manoel de Barros. Não tive nenhum filme que dissesse “esse daqui vai ser moleza, esse eu já sei”. E não é porque já fui para lugares desafiadores, mas é porque o conceito é sempre desafiador. Nunca fiz um filme que não me dedicasse totalmente. Sempre tive frio na barriga, como eu suponho que os corredores ou pilotos de automóveis e muitos profissionais têm.
2. Como é desenvolvido o trabalho de fotografia em um filme e como essa área dialoga com a direção de arte?
No início de carreira, nos curtas que a gente fazia, não tinha direção de arte. A Rita [Rita Murtinho], diretora de arte do “O sonho não acabou” – o primeiro longa metragem que eu participei – foi quem me ensinou tudo de arte. Como trabalhar com as cores. Esse diálogo é fundamental, sem a direção de arte ou você fica com um fundo preto ou branco. A fotografia não existe sem a arte, é ela que te dá possibilidades. Claro que quando se vai fazer um documentário o personagem é o mais importante, mas o fundo também pode contar uma história já que você está pegando uma coisa existente. Os meus melhores trabalhos tiveram a melhor direção de arte, me ajudaram a construir uma fotografia. Sou totalmente fã e dependo da arte, não existe cinema sem direção de arte, principalmente ficção. Adoro quando o diretor de arte me propõe coisas e a gente constrói algo que vem a ajudar a contar a história do filme.
3. Existe pra você uma diferença de filmes que são captados em preto e branco e colorido no cinema ou alguma preferência?
Preferência não, o que acontece é uma proposta. Se o diretor me pede algo com o preto e branco, imediatamente começo a pensar em preto e branco. Se ele fala que é muito colorido a minha tendência é acreditar no que o diretor está me dizendo e pedindo. Não fico questionando, já entendo que ele quer daquele jeito e para mim não importa o porquê. Eu adoro quando já vem um menu para ser desenvolvido, a não ser que o diretor fale que não tem a menor ideia e quer a opinião se o filme é preto e branco ou colorido. Nesse caso vou tentar entender e sugerir algo. O meu jeito de trabalhar é o jeito colaboracionista, sou um autor totalmente da imagem. Ela existe porque tem muita coisa envolvida ali, que ela é formada. Sempre fui colaborador do filme, não imponho.
4. Esta será a primeira masterclass dos Cinemas Teresina. O que o público teresinense pode esperar dessa estreia?
Uma grande conversa sobre fotografia de cinema, sobre como o cinema entra na vida das pessoas por meio da fotografia. Vou tentar passar a minha vivência cinematográfica, que é de muita intuição e menos técnica. Será uma conversa, eu adoro conversar e quero o máximo possível da participação do público. Se eles se empolgarem vou estar aberto para o máximo de perguntas que eu puder responder. E vai ser uma felicidade estar com o pessoal do Piauí que será também uma homenagem ao meu velho Coutinho [Eduardo Coutinho]. Ele foi o cara que sem querer botou uma grande semente nos que trabalhavam com ele e nos que entenderam o cinema que ele fez. Ele odiaria ouvir que estou o homenageando, mas é uma homenagem de coração. Escolhemos exibir na masterclass “O Fim e o Princípio”, justamente por isso, é o filme mais difícil que a gente fez juntos. Nós não sabíamos o que iríamos filmar, os velhos foram aparecer depois. Foi o filme que a gente esteve mais colado um no outro. Nos divertimos muito fazendo. Funcionou porque havia um respeito muito grande entre nós e uma forma de expressão calcada no cinema mesmo, e pouco na conversa. Tinha uma confiança também, a segurança que eu dava para coisas funcionarem.
5. Qual a importância da expansão das Masterclass com esta parceria estabelecida com a Associação Brasileira de Cinematografia (ABC)?
Esse tipo de masterclass acontece no Rio de Janeiro. Até o momento já fizemos 13 masterclass e projeções. Nossas masterclass são ecléticas, a gente chama todos os tipos de profissionais. Já tivemos fotógrafos, diretores de arte, técnicos de som, montagem, finalização. Em Teresina vai ser a primeira masterclass fora do eixo Rio – São Paulo. O intuito da ABC é compartilhar, a gente não é uma associação de classe, é uma associação que visa informação, educação, troca de ideais. Tanto que é a única associação no mundo que abriu para outras categorias e não apenas para os diretores de fotografias.