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Cronicando o Piauí: Causos

Está enquadrado no flash insalubre do momento insano, ou no calendário do operário-padrão, ou no relógio cativo ordeiro dos ponteiros tira o tempero da vida. O sabor e o saber da água. A cor e a lei da flor. As virtudes do desabafo afogado em lágrimas. A vida deixa de ser uma viagem real para caí na rotina virtual. Voos de pássaros banais. Conversa na famosa esquina de homens tristes. Sorrisos auto-programáveis. Caminhar tabulado em tabuleiro de damas amargas. Ficamos vivendo da mesmice e da cretinice.

Ao invés do lazer no caminho do Sol, na desobediência da fala, passamos a seguir rotas certinhas e labirintos escuros em linhas retas. Criamos metas impagáveis. Quando vivemos estes cárceres, estamos em pleno mar encerrados nos porões de um navio negreiro. Temos a juventude em mãos, mas, vivemos almejando a velhice e perseguindo a chancela da aposentadoria na carteira de trabalho. Temos tempo, saúde e tesão, no entanto, sonhamos com os dias opacos da velhice, com as idas contínuas à farmácia e com um vigor pusilânime.

Descemos o rio sem consumir a beleza do voo e a elegância do navegar da garça no azul do Eterno. O cotidiano vai nos ludibriando em contas de água, energia, IPVA, IPTU… vêm os cabelos brancos e o tempo jamais retrocede. Nem por você, nem por mim e nem por ninguém. Somos tolos correndo atrás de ilusões. Crianças chorando por saco de bombons. Não temos controle remoto para dar pause, para reviver alguns capítulos, para mudar algumas cenas ou desligar para voltar a respirar mais tarde. E aí, meu amiguinho, a máxima que irá se impor será:

“Não quero choro e nem vela!”

Cadê meus pais? Se foram! Meus irmãos? Se foram! Meus amigos? Morreram! Meus inimigos? Se diluíram! Quantas coisas ainda tínhamos para curtir, entretanto, preferimos fingir. Vivemos poucos bons momentos juntos. Rapidamente foram-se as horas, os dias, as semanas, os meses e os anos. Sempre e sempre vivi o amanhã. No entanto, nunca o alcancei. Passaram-se num piscar de olhos.
Queiram ou não, ainda vivemos o cativeiro da Babilônia e do Egito.

Agora, aposentado, você percebe que o problema não era a falta de dinheiro, o desemprego, as contas… era você que foi envolvido, consumido, ludibriado, enganado, roubado pelo sistema. Aposentado, ver que tudo continuou na mesma. O aluguel e as demais obrigação estão lá. Do mesmo jeito. Debito e crédito jamais se divorciaram. E o herdeiro desta união instável, estava sempre lá, no cantinho do final da página: “saldo negativo”. Porém, a vida passou e não voltará.
Regra de ouro do jogo de xadrez:

“Ao final do jogo, o rei e o peão irão para a mesma caixa”.

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